O mundo moderno se sofisticou. O termo mundo moderno já é totalmente ultrapassado. Lembro como se fosse hoje, Bill Clinton anunciando em 1995 a estrada da comunicação, com um mapa dos Estados Unidos enorme, todo com arcos luminosos se conectando. A isso ele chamou de Internet...

O mundo moderno se sofisticou. O termo mundo moderno já é totalmente ultrapassado. Lembro como se fosse hoje, Bill Clinton anunciando em 1995 a estrada da comunicação, com um mapa dos Estados Unidos enorme, todo com arcos luminosos se conectando. A isso ele chamou de Internet...
Um amigo que trabalhava na área de processamento de dados (era isso que ele fazia, juntava um monte de informação em um computador do tamanho de uma geladeira, no Banco do Brasil, com telas com letras verdinhas, que tinham que imprimir uma cópia em folhas de papel enormes, com furinhos do lado). Esse mesmo amigo falou que a tal da internet era “papinho, nem nos Jettsons...” (aquele desenho dos anos 60, com robô doméstico e carros voadores)
Fiz um vestibular (ainda se chamava assim...), onde ao término, ganhávamos um cartão de resposta que precisava ser perfurado com um palito (!!!), e era um enorme avanço. 
Todo avanço apresentou uma reação dos que faziam de outro jeito anteriormente. No filme “Meia Noite em Paris”, o personagem Gil (Owen Wilson), retornava sempre aos loucos anos 20, e o pessoal dos anos 20 queria retornar à Belle Époque, e essa turma por sua vez, achava o máximo o Renascentismo. O fato é que a grama sempre era mais verde no vizinho, e sempre se sente saudade e nostalgia de tempos que não foram vividos (as ondas de vintage são uma tentativa de resgatar o irresgatável).
Tenho uma relação ambígua com tecnologia. Acho o máximo, mas resisto, muito em parte de ignorância de como usar e uma boa parte de preguiça de aprender. Fico fantasiando às vezes de retornar no tempo com um celular e as pessoas (por exemplo, na década de 70) não saberem nem do que se trata. Ou trazer o meu pai, morto há 20 anos, e que adorava automóveis, para ver uma rua com todos esses carros que são comuns hoje em dia (o comunicador do Star Trek é bem maior que meu celular de hoje, e eles estão nos anos 2200...)
Porém, perguntei a um técnico de TI (levei algum tempo para saber o que se tratava, e é tão óbvio que dói), quanto tempo dura uma foto digital. “Para sempre”. Aí eu perguntei como, e ele está enrolando com a resposta até hoje.
Uma tecnologia para se consolidar depende de diversos fatores, e sua durabilidade está relacionada à simplicidade. A tecnologia “cadeira” está por aí há tanto tempo porque ela resolveu um grande problema (deixar de sentar no chão), com solução simples (toco de madeira serve) e há muito tempo (milênios). A probabilidade desta tecnologia ser substituída em breve é remotíssima (também deve levar muitos anos, ela se sofistica, mas não acaba).
Sou corredor de rua desde que me entendo por gente (antes dos 18 você não é gente, é apenas um idiota). Em algum momento, nos anos 80, surgiu um rádio portátil com toca fita e à prova d’agua (era amarelinho, um trambolho, chama DiscMan Sony, lembram?). Nós achávamos o máximo. Depois foi substituído por uma porta CD que se carregava em uma bolsa (e se corria com isso!!!...). Dez a zero para a cadeira.
O importante é a modernidade entrar de mansinho na sua vida, sem criar soluções para problemas que ainda não existem. Muito recentemente eu comecei ficar mais confortável com computadores. Nunca entendi direito essa resistência. Refletindo, descobri que tinha comprado uns 5 ou 6 computadores, sempre para os outros (filhos, mulher), e que não tinha intimidade porque não fazia parte do meu domínio, era partilhado. Estou escrevendo nele agora, e ninguém me segura.
Quanto a Luís de Camões, esse escreveu em papel, com grafite e tinta ruim, e seus originais estão vivos até hoje. Baita tecnologia.

Por: Antonio Bellas