Multidisciplinaridade, ciência, angústia e esperança

A multidisciplinaridade é fundamental, em qualquer atividade humana. Todos têm importância.
Em saúde, não poderia ser diferente.
A engrenagem humana que toca a saúde é maravilhosa, e nós estamos em evidência nesse momento.
O combustível que sustenta a nossa engrenagem sempre foi a ciência. A necessidade do embasamento científico trouxe muito volume, muita velocidade para a ciência mundial.
Mas, o comportamento desse novo vírus está deixando a ciência em xeque.
É, não somos só nós.
A própria ciência está com dificuldades em acompanhar esse novo vírus.
Sem nenhum exagero, o que se observa hoje é que uma quantidade grande de argumentos e hipóteses, diariamente, são muito bem explicados, e imediatamente derrubados por outros argumentos e hipóteses em
sentido diametralmente oposto, todos com o mesmo embasamento científico. Ou seja, um embasamento tão pobre quanto seria de se esperar, frente à falta de tempo disponível para produzir ciência.
A ciência sempre precisou de muito mais tempo do que a pandemia está pedindo.
A ciência foi infectada pelo vírus, e está se reinventando, tomando vários remédios, e em velocidade máxima.
Talvez seja hora de rever métodos. Talvez seja hora da política interferir menos, e ajudar mais.
E é a hora de darmos mais valor aos cientistas e ao ser humano.
Mas, a hora das certezas vai chegar.
E, até que esse consenso chegue, colegas, vamos aceitar o nosso sofrimento.
Somos todos humanos. Apenas uma pequena parte do que acontece conosco está sob o nosso controle.
Até a ciência está sofrendo. Não seria diferente conosco.
Sim, sofrer é natural. Mas não é o mesmo que se entregar.
Sofremos quando estamos diante de momentos difíceis, e não há alternativa senão enfrentá-los.
Sofremos quando nos afastamos de quem amamos, quando limitam os nossos encontros.
Mas, isso não é o mesmo de se entregar.
Entregar-se é desistir, paralisar-se. Parar de fazer sua parte, pra ajudar e pra reduzir o contágio.
Quem desiste esquece que, um dia, tudo isso vai parar, tudo isso vai acabar.
Precisamos unir forças.
Já dizia Guimarães Rosa: “Travessia perigosa, mas é a vida”.
E podemos ter a certeza de que quanto maior for o esforço, maior será a recompensa.
A saúde está em foco, e vai sair fortalecida dessa crise.
O SUS está recebendo a atenção que merece, e a melhoria das nossas condições de trabalho vai ser um efeito
colateral excelente e permanente dessa pandemia no país.
Por isso, vamos nos proteger, colegas.
Vamos nos organizar. Fazer exercícios físicos.
Vamos aproveitar cada segundo presencial dos momentos com quem amamos, com máxima proteção,
segurança e amor. Vamos abusar das videoconferências, e não só as profissionais.
Vamos chorar, quando der vontade.
Vamos nos permitir, em alguns momentos, até esquecer desse vírus.
Vamos sorrir. Comemorar a oportunidade de sermos as forças amigas nesse momento histórico.
Seremos lembrados pra sempre.
Somos profissionais em saúde.
Vamos cuidar também da nossa!

Parabéns, colegas da saúde. Vamos continuar dando o bom exemplo a esse país.

Leonardo Gomes de Carvalho (Neurocirurgião Diamantina, MG)
Extraído de vídeo publicado no Instagram
@drleonardoneuro
Postagem em 17/04/2020